sexta-feira, 20 de maio de 2011

Apontamentos sobre Crescimento e a Agenda de Lisboa

Os desiratos da Agenda ou Estratégia de Lisboa, desenhados no Conselho Europeu de Lisboa, pareciam bondosos se nos ativermos aos seus grandes objectivos: preparar a transição para uma sociedade e uma economia do conhecimento através da investigação e desenvolvimento e da aceleração das reformas estruturais reforçando a competitividade e a inovação. Concomitantemente com uma alteração do modelo económico Europeu a estratégia englobava, também, a modernização do modelo social Europeu através do desenvolvimento dos recursos humanos combatendo a exclusão social. Adicionalmente no Conselho Europeu de Gotemburgo do ano seguinte adicionou-se uma dimensão ecológica visando o desenvolvimento sustentável. 

Em 2004 face às dificuldades para atingir os objectivos e alvos traçados em Lisboa, fixam-se novas prioridades como a melhoria do investimento em redes e em conhecimento, o reforço da competitividade e o prolongamento da vida activa. A identificação de medidas efectuada no relatório "A estratégia de Lisboa para o crescimento e emprego" efectuada por um grupo de individualidades apontou eventos externos e alguma inacção, agendas sobrecarregadas, fraca coordenação e prioridade em assuntos conflituais. Apontou também a urgência da tomada de medidas face ao crescente gap com América e Ásia e o problema seminal Europeu: o fraco crescimento populacional e o envelhecimento da população Europeia. Os primeiros sinais de aparente contradição com a manutenção do modelo social Europeu estão aqui já bem presentes. O crescimento rápido da economia mundial e uma certa globalização do conhecimento, através das redes do conhecimento, em consonância com uma pouco avisada estratégia da indústria Europeia em se deslocalizar e com acordos de comércio internacional onde não são devidamente acauteladas perdas de comércio (por efeito de concorrência desleal via dumping social), trazem os primeiros sinais de alarme para uma Europa habituada a ser um dos motores principais da economia mundial. 

É interessante verificar como a Agenda de Lisboa parecendo, como estratégia, demasiado optimista e algo desfocada nos seus pressupostos, não foi capaz de flexibilidade suficiente para prever a alteração e revolução profunda operada a nível mundial com a globalização, pensando a estratégia para a economia do conhecimento como correctora suficiente da recorrente perda industrial e relacional da Europa com outros espaços. O enfoque demasiado numa economia não transaccionável, à semelhança de Portugal, terá funcionado como detonador de uma crise enunciada que começará a pôr o modelo social Europeu em cheque?

Já vimos que a economia do conhecimento por si só é insuficiente para gerar valor suficiente para “alimentar” a população Europeia no quadro dos benefícios acrescidos do histórico Estado Social. Não tendo a Europa grandes recursos energéticos, pareceria também já em Lisboa ter sido avisado a alteração da necessidade rápida de alteração do paradigma energético, evitando a dependência e consequente perda de influência da Europa das estrelas. A política de emigração denota, também na minha óptica, falta de vistas largas de extractos importantes da própria população Europeia com evidentes reflexos nas lideranças, não entendendo e replicando o sucesso do modelo Americano de crescimento sustentado através do crescimento populacional.

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