terça-feira, 3 de maio de 2011

Da Escolha do Tema, da Revisão Bibliográfica, da Definição do Problema e da Importância destas Fases na Concepção de um Projecto de Investigação

No Universo editorial multiplicam-se como coelhos (nem Jorges, nem Passos!) conselhos e consensos sobre como fazer uma tese. Em sede de tese - com sede da mesma - há mesmo quem utilize vergonhosos estratagemas que fariam corar e enfurecer pioneiros como Umberto Eco. Não havendo tese sem tema, são logo à partida inúmeros os riscos e as tentações enumeradas por Umberto Eco no seu "Como fazer uma Tese". Verdadeiramente o que sabemos, segundo Eco, é que ao fazer uma tese exercitamos a memória, tanto a de curta como a de longa duração, podendo ir buscar “ao baú” temas antigos ou apostarmos na contemporaneidade. Tudo coisas, como Eco diz, que comportam riscos, como o risco da Tese panorâmica versus tese monográfica - o orgulho, versus a astúcia - a generalidade versus a “peritagem”.

A escolha do tema parece, assim, ser fundamental para não nos atolarmos em falta de rigor, falta de pudor (por imitação), falta de bibliografia (os tais anões desprovidos de gigantes). Fazer uma tese é escolher um tema, saber se estamos à altura dele - e se ele nos deixa estar à sua altura - tentando combater o nosso orgulho (e vaidade) de fazermos uma tese estado da arte da “Evolução das Espécies” ou um brilhante... poema lírico. Recolher documentos tentando distinguir nesses instrumentos as fontes cristalinas (não poluídas) e a "literatura - fonte crítica", ordenando-os, reexaminando temas à luz dos documentos, dando uma forma orgânica a todas as reflexões precedentes.

A acessibilidade das fontes na sua forma de revisão bibliográfica é também um problema. Desde a genial definição de Eco das traduções de trabalhos originais, ao compará-los com próteses, à inexistência do olhar rigoroso sobre as próprias fontes, porque sem fontes “não há água” - a não ser num trabalho eivado de demasiada originalidade, que potencie o risco da visão singular em estudo que se pretende científico. A definição clara do problema decorre e é fundamental. Saber decantar o objecto que se pretende tratar através de uma análise das diferentes variáveis, faz-nos perceber que a resposta a um problema exige um quadro lógico, onde se joga a relevância das variáveis e a sua definição clara, o modelo conceptual da relação entre variáveis, a explicação clara dessas relações. Afinal só a definição do problema permite gerar hipóteses e encontrar um quadro hipotético - dedutivo onde possamos exercitar o nosso falsificacionismo (o outro, não o do vergonhoso anúncio supra). A ciência na procura da verdade ou da solução é sem dúvida revisionista, mas nunca... desonesta!

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