sábado, 30 de abril de 2011

Racionalidade de Mercado



Os incentivos de que fala César das Neves tem a ver com sinais que distorcem a racionalidade do mercado. O exemplo de César das Neves é elucidativo. Se tivermos um autocarro com duas portas, se elas tiverem colocadas à mesma distância, a saída do autocarro proceder-se-à através de uma repartição igual. Os passageiros do terço traseiro sairão pela porta de trás, os do terço dianteiro pela porta da frente. O problema dos incentivos dá-se quando o autocarro tiver duas portas assimétricas, sendo que o esvaziar do autocarro proceder-se-à de forma mais caótica. Esta mão invisível da racionalidade é, no mundo real, sujeita de múltiplos incentivos negativos e positivos: a colocação de portas assimétricas é um deles! Se os salários aumentam para além da produtividade por efeito administrativo, o mercado irá incorporar negativamente estes aumentos como? Destruindo emprego posteriormente, por via da falta de competitividade. 

É nesta medida que Smith achava que a eficiência estava no mercado e nesta mão invisível que tudo ordena. Tudo? Tudo não, porque pode haver "passageiros" - espécie de oitavos passageiros, alliens pouco racionais - do terço da frente que por motivos vários resolvam sair pela porta de trás, criando os desequilíbrios que só o bem comum - através do Estado - podem corrigir. Ad contrarium percebe-se, assim, como a intervenção pode, entretanto, ter um efeito mais perverso e menos racional do que a conjunção das racionalidades individuais. Portugal é um exemplo - das más políticas públicas quantas vezes mais defensoras do interesse privado e que incentivam negativamente o mercado. É ver as parcerias público privadas e os interesses de alguns "Coelhos" da nossa praça - e uma vítima dessa falta de racionalidade interventiva do Estado que amiúde mais que emperra as saídas do autocarro. Este equilíbrio provindo da racionalidade dos agentes económicos é entretanto sistematicamente mal - ou bem - incentivado. É também por isto que muitos pensam que a bem da racionalidade de mercado - por exemplo no mercado de trabalho onde se confrontam procura e oferta de emprego - não devia haver subsídios nem ordenados mínimos, porque o mercado se encarregaria de fazer o equilíbrio entre empregos e salários.

É também por isso que quando vemos medidas irracionais como a subida dos impostos em ambiente de crise e que vão redemoinhar a crise, elas nos revoltam, porque há muito que só com a intervenção do mercado a despesa teria sido contida, porque o "mercado", ao contrário dos homens - sejam eles laranja, rosa e todos os outros cambiantes - estariam sujeitos à regra número 1 das finanças (de qualquer dona de casa): não se gasta mais do que aquilo que se tem!

Sem comentários:

Enviar um comentário