quinta-feira, 28 de abril de 2011

Trajectórias Tecnológicas

O conceito de trajecto – dependência ilustra bem o condicionamento da posição presente e futura das trajectórias tecnológicas das empresas. Construir o futuro sem olhar ao presente não parece fazer parte das estratégias de inovação das empresas. Determinismo e existencialismo estratégico tecnológico debatem-se, assim, num trade - off de duas condicionantes existenciais específicas: as limitações do conhecimento e as de competência. As capacidades de aprender e explorar ainda são barreiras à estratégia pela inovação. O funcionamento de sistemas técnicos e organizacionais complexos fazem da inovação muito mais um poder do que um querer. Experimentação, erro, aprendizagem e incrementação mantêm equilíbrios e parametrizações estáveis longe dos grandes saltos. Bases de produtos existentes e competências acumuladas são, assim, o capital conhecimento de que dependem os processos de aprendizagem. Os chamados campos de competências tecnológicas que dão azo ao conceito – noção de trajectória tecnológica, parecem derivar do facto de “As competências da empresa raramente coincidirem com a dos indivíduos” (Tidd, Bessant, & Pavitt, 2003, p. 116), sendo fundamental o conhecimento tácito, técnico e organizacional acumulado pelos recursos produtivos. 

É interessante verificar que quando pensamos em sectores económicos específicos, pensamos em trajectórias tecnológicas que se vão sustentando e acomodando pela incrementação, naquilo que Tidd avoca como as tecnologias subjacentes, sendo que matriz histórica de desenvolvimento, requisitos de capacidade e implicações estratégicas, parece terem dado lugar à dimensão das empresas de inovação, tipo de produtos feitos, objectivos da inovação e localização da inovação própria.

Tidd (Tidd, Bessant, & Pavitt, 2003, p. 117) sistematiza, assim, as cinco trajectórias Tecnológicas mais importantes sendo que nesta taxonomia de modelo dito razoável, as empresas podem pertencer a mais do que uma trajectória: 1) a das empresas dominadas pelos fornecedores onde a mudança técnica é quase totalmente exógena e trazida para o seu interior e a principal estratégia parece ser a utilização de tecnologia exterior como reforço das suas vantagens competitivas; 2) a das empresas escala – intensivas através de sistemas de produção complexos sendo a estratégia de inovação a melhoria incremental tecnológica em produtos complexos, sistemas de modelagem/simulação e práticas de projecto/produção; 3) a das empresas suportadas em ciência, laboratórios de I&D resultantes do conhecimento e da investigação académica, através de estratégias assentes no monitoramento e exploração de avanços de investigação básica desenvolvendo produtos afins e activos complementares; 4) as empresas de informação - intensiva com fonte de suporte nas TI, projectando e operando sistemas complexos de informação; 5) por fim, as empresas fornecedoras especializadas de contributos de elevado desempenho e integradoras de capacidades, harmonizando os avanços tecnológicos com os requisitos dos clientes.  

Aspecto importante para Tidd é a mudança de trajectórias tecnológicas próprias de cada empresa, mesmo que como processo de média, longa duração, resultado do “activo” de conhecimento. Lugar, também, para a menção às tecnologias revolucionárias da Biotecnologia, as Tecnologias de Informação (a importância das tecnologias de interface e dos sistemas integrados de competências; a utilização de simuladores e protótipos virtuais; a democratização das tecnologias sem adição diferenciada de alta, média ou baixa) e a melhoria pela tecnologia dos materiais (tendo em atenção Tidd ter escrito esta sua obra em 2001 e muita “água” já ter passado sobre as pontes das tecnologias ditas revolucionárias como o caso da Biotecnologia).

A referência às competências próprias das empresas alinha segundo Tidd na identificação das causas do sucesso competitivo. Referência para Gary Hamel e C.K Prahalad que afirmam preto no branco que a vantagem competitiva sustentável das empresas reside não nos seus produtos mas nas sua competências – chave: na comunicação, na participação, no foco das suas competências, na sustentação dos produtos – chave, nos denominados “pacotes de competências”, nas suas arquitecturas estratégicas afectando recursos e ajustando competências a tecnologias. Sublinhado, também, para o facto da estratégia de inovação de uma empresa envolver mais do que as suas competências diferenciadoras chave ou críticas, envolver as chamadas competências facilitadoras necessárias para o sistema de produção, distribuição e abastecimento pelo que lugar à noção de competências distribuídas. Lugar ainda para a menção do risco de transformação das competências – chave em competências rígidas pela sua dominância, pelo que “a sua remoção exige mudanças na gestão de top.” (Tidd, Bessant, & Pavitt, 2003, p. 130) . Outra questão que se coloca é a da medição das competências, medição possível através do nível de desempenho funcional. Autores como Richard Ball contribuem para a identificação e medição das competências – chave pela via da distinção entre activos intangíveis e competências intangíveis, valorizando os atributos colectivos que constituem a cultura da organização.

Por fim, as trajectórias tecnológicas nas pequenas empresas, organizações que são nos países, normalmente, a maioria, detendo o ceptro da maioria do emprego. Como é óbvio das pequenas empresas espera-se não diversificação das suas competências tecnológicas, mas especialização. Tidd tenta tipificar as pequenas empresas. Desde as superestrelas de sucesso exploradoras das grandes invenções, às empresas baseadas nas novas tecnologias (as EBNT) de génese de outras empresas, laboratórios governamentais ou mesmo de investigação universitária (como são exemplo múltiplas empresas que têm ultimamente nascido em Portugal via investigadores e quadros universitários), às de fornecedores especializados em matérias - primas, às empresas cujas fontes de inovação são principalmente os seus fornecedores (Tidd, Bessant, & Pavitt, 2003, p. 134).  
Assim, verificámos a limitação na escolha de estratégias de inovação pelas capacidades integradas das empresas e oportunidades de exploração. Verificámos como as empresas estão em trajectórias tecnológicas. Identificámos cinco trajectórias tecnológicas alargadas bem como tecnologias – chave criadoras de oportunidades tecnológicas. Falámos em gestão estratégica como suporte das competências tecnológicas. 

Bibliografia

Bergeron, B. (2003). Essentials of Knowledge Management. New Jersey: John Wiley & Sons, Inc.
Tidd, J., Bessant, J., & Pavitt, K. (2003). Gestão da Inovação . Lisboa: Monitor.

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