quinta-feira, 2 de junho de 2011

A Europa e a Globalização

No seguimento de um interessante debate televisivo sobre o futuro da Europa e do Euro num mundo globalizado, num momento em que se começa a questionar a hipótese de saída de países periféricos da Eurolândia (e já não só pelos Eurocépticos), num momento em que a dialéctica BCE, Comissão Europeia e o próprio Bundesbank como reflector do constructo do Euro (o Euro construído à imagem e ao serviço do modelo Marco Alemão) estão em diálogo azedo pelas medidas sequentes pós falhanço do resgate Grego (a que seguirá a restruturação da dívida Grega, o perdão de parte da dívida, a dilatação dos pagamentos e/ou o aligeiramento das taxas), neste momento coloca-se a questão: está a Europa pós globalização fora do prazo? Terão os países periféricos de abandonar a zona Euro, a bem de uma hipotética manutenção de um Euro à imagem do marco Alemão e da sua própria solvabilidade? O que falhou no processo Europeu e na criação da moeda única Europeia? Características próprias dos povos, grandes diferenças estruturais, o edifício da moeda única, a percepção dos povos que um processo de integração e mais ainda de integração monetária era um processo de ganhos sem perdas?

Por outro lado é de relembrar como já se colocava a hipótese e a consideração de choques assimétricos por efeito da globalização e das assimetrias soberanas aquando da criação da moeda única. É verdade que a construção do Euro foi mal delineada (no possível?), com falha de instrumentos comuns próprios que traziam o cheiro da federalização, nunca assumindo os países do centrão Europeu que a construção de uma zona monetária comum obriga à percepção (não só das suas elites políticas mas também das suas opiniões públicas) que em jogo deixaram de estar soberanias e passaram a estar espaços regionais. E que os países periféricos, pouco dados a critérios rígidos de autocontrolo dos seus deficits, não teriam essa capacidade de ajustamentos rápidos a desvios pronunciados, devido eventualmente a taxas de juros historicamente baixas e a uma espécie de ilusão monetária do sem limite ao endividamento. Espaços regionais numa zona monetária comum significam, por outro lado, políticas regionais e assumpção de ajuda contínua e ajustadora dos países (regiões) mais fortes e polarizadoras para países (ou regiões) mais fracos. Mais fracos seja por responsabilidade própria de incapacidade de ajustamento, seja por gaps estruturais passados não devidamente sanados por via de ajudas estruturais, seja pela assumpção geográfica.

Na história Europeia países como a França assistiram, no seu espaço geográfico, a grandes desajustamentos regionais e grandes fenómenos de concentração geográfica. Para obviar a esses fenómenos de centralização e concentração, muitos programas regionais foram adoptados como a criação de zonas regionais de atracção, criação de tecnópolos,... como formas de evitar o fenómeno polarizador que empobrece partes do todo. Para o centrão Europeu não há pois aparentemente justificação para o desconhecimento que a criação de uma zona comum, onde se iriam encontrar países polarizadores e polarizados, obrigaria a uma construção de uma política regional e estrutural forte, já que a polarização será uma constante na história da construção deste espaço regional Europeu (sendo que o que está em causa é saber se esse fenómeno de polarização e de sobreganhos para o Centrão Europeu por via de ganhos de comércio não "obriga" a apoio das regiões polarizadas, numa soma positiva de ganhos para todos). Há quem culpe a falta de visão dos políticos pós- Kohl, mas também há quem nos aerópagos Europeus se aperceba que o mundo mudou (por efeito da ameaça percepcionada pela opinião pública Europeia, por via da explosão concorrencial perpetrada pela globalização) e com ela a própria vontade integradora da opinião pública Europeia: voltámos ao cerrar de fileiras dos medos e egoísmos nacionais!

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